terça-feira, 29 de março de 2011

Animais

Quando pedimos aos alunos que falem nomes de animais, geralmente eles dizem os "básicos" e, dependendo da idade, ficam admirados por descobrirem que pulga, piolho, carrapato, minhoca, entre outros, são animais. E quando falamos de animais de outras regiões, de outros países, quanto interesse! Através de uma brincadeira de Bingo de animais, podemos refletir juntos sobre a diversidade no mundo animal, ecologia, meio ambiente, extinção, respeito...Aqui, sugiro a atividade de colar em uma caixa de fósforos a gravura do animal e dentro colo

car as letras que formam seu nome.

Nosso nome

Ninguém gosta de ser chamado de "o de óculos", "gordinho", "baixinho", "moreninho" etc. Nosso nome é muito importante e, desde cedo, a criança deve aprender a escrevê-lo, saber seu significado e o porquê de tê-lo. O nome é um dos muitos instrumentos a nosso favor no processo de alfabetização. Devemos sempre ter uma lista dos alunos da sala em ordem alfabética na parede (para os alunos da Educação Infant


il, que ainda não reconhecem, fazer na frente seu auto-retrato para ajudar na identificação e cópia posterior), bingo de nomes, amigo secretoetc. Nas imagens temos a foto da criança, colada em uma caixa de fósforos e dentro as letras que formarão seu nome.

Cupuaçu, graviola, orvalha...

Trabalhar Bingo na fase de alfabetização leva à assimilação dos nomes das letras, leitura de palavras e, neste caso, o uso de frutas não tão comuns em nossa região, desperta o interesse em conhecer mais sobre nosso imenso Brasil.

Alunos em fase de alfabetização trabalham textos sobre o Mico-leão-dourado e participam de escrita coletiva

Independente da hipótese silábica que o aluno se encontra, ele deve entrar em contato com diferentes tipologias textuais. Saber identificá-las, reescrevê-las, participar com maior conteúdo de escritas coletivas, onde a reflexão ortográfica e a paragrafação são discutidos.

domingo, 20 de março de 2011

DINÂMICA: escrever em pequenos pedços de papel mensagens de incentivo. Colocar as mensagens dentro de uma bexiga,enchê-la e ...brincar. Ao sinal, que pode ser a parada brusca de uma música, um sino, palma etc, pegar uma bexiga, estourá-la e ler sua mensagem.

domingo, 13 de março de 2011

Alfabetização Solidária

Trabalhar como voluntária para a Alfabetização Solidária foi uma das melhores experiências que já tive. A vontade de aprender e levar este conhecimento para o sertão nordestino ou para as regiões mais afastadas do Amazonas é um exemplo para todos aqueles que não acreditam mais na solidariedade, na partilha, na educação como instrumento de libertação das trevas da ignorância.E foi isso que aprendi com estes multiplicadores do saber. Pessoas simples que não tiveram medo de vencer tempo, distância, preconceitos para serem Professores e eu, que pensei que tinha tanto para passar, minha experiência como alfabetizadora, percebi o pouco que sabia diante da grandeza de tudo que vivi.
"Todos pensam em deixar um planeta melhor para os nossos filhos... Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?

Brincadeiras que incluem

A brincadeira tem um papael muito importante no desenvolvimento infantil. É através das brincadeiras que a criança vai construindo seu mundo, fazendo suas escolhas. Ao brincar a criança nos da pistas comportamentais muito importantes. Devemos prestar atenção àquela criança que tem dificuldade em assimilar regras, perder, trabalhar em grupo, dizer não, entre outros comportamentos.
Selecionei algumas brincadeiras onde, além de divertir, trabalham a socialização (para aqueles que "só querem ficar com um grupinho de colegas", são tímidos), a memorização (quantas vezes ensinamos um alunos e ele faz a tarefa corretamente, no outro dia fala "esqueci"), criatividade, raciocínio, estratégias etc. Sempre lembrando, ao formar as equipes não colocar meninos contra meninas, pois podemos estar reforçando comportamentos machistas no futuro.

Bom divertimento!

01 – SOL E LUA: em círculo, um é o sol e o outro é a lua. Um, dois, três (dando três passos à frente e de mãos dadas; um, dois, três, dando três passos para trás), esticar (de mãos dadas, dar um passo ao lado), voltar. Quem está dentro do círculo é rodado (sol) e vai para trás. Começa de novo, até passar por todos do grupo. Fazer com diferentes ritmos musicais.
02 – JORNAIS: jornais espalhados pelo chão (bem separados) e enquanto a música toca todos, inclusive o professor, deverão andar entre as folhas observando-as (lendo). O professor dirá algo que leu em algum dos jornais e os alunos sairão em busca desta informação e ficarão ao redor desta folha. Variação: ao invés de usar jornal, podem-se usar listas temáticas (nome dos alunos, frutas, cores, formas, hábitos de higiene, saúde etc).
03 – ILHA: colocar as folhas de jornal no chão, uma bem ao lado da outra. Os alunos andarão em volta desta “ilha” de jornais enquanto um aluno fará um som com o corpo e os demais o imitarão. Quando o professor der o sinal, deverão subir na ilha de jornal. Começa tudo de novo, porém, a cada para, algumas folhas deverão ser retiradas. Os alunos deverão fazer o possível para ficarem juntos e não encostarem-se ao chão.
04 – DESENHO: em grupos de quatro alunos, um de costas para o outro, cada um fará um desenho. Ao sinal, virar e, juntos, criar uma história que envolva todos os desenhos.
05 – BAMBOLÊ: em círculo, de mãos dadas, passar um bambolê sem soltar as mãos:
06 – TERRA: em duplas, ambos em cima de uma folha de jornal que deverá ser a “terra” (tudo em volta é “água”). Dançar ao som de uma música bem movimentada sem deixar o pé sair do jornal. Quando a música parar, pular para trás (fora do jornal) e dobrar uma vez a folha. Repetir a dança. Parar. Dobrar o jornal de novo. Dançar, parar, pular, dobrar até não poder mais (no final um carrega o outro).
07 – ESCULTOR: em duplas: um é a massa que deverá ser massageada pelo escultor. Após a massagem, fazer uma estátua com a “massa”. Depois, com música, fazendo o possível para manter a forma da estátua, sair andando. Trocar os papéis e repetir a brincadeira.
08 – PROIBIDO SENTAR: em grupos de cinco, criar uma coreografia usando cadeiras (menos sentar). Após um tempo estipulado, fazer apresentações com músicas. As cadeiras podem ser substituídas por diferentes roupas, objetos etc.
09 – ESPELHO: em duplas, durante uma música, um da dupla deverá fazer gestos, dançar etc. Depois, o que ficou parado deverá relembrar a sequência desenvolvida pelo colega e imitá-lo.
10 – EQUILÍBRIO: correr livremente ouvindo uma música. Quando a música parar, criar uma forma de equilíbrio.
11 – TROCA DE ABRAÇOS: em pares, em círculo, um de frente para o outro. Recitar: “Um, dois, três, três, dois, um (batendo a palma das mãos),dar uma volta no lugar, dar um abraço, trocar o par”.Quem está dentro do círculo é que trocará de par. Vai repetindo até chegar ao par original.
12 – ANDAR E MOVIMENTAR: em círculo, andar e fazer diferentes movimentos.
13 – ATENÇÃO: em pares, dançar. Quando o professor disser “amarelo”, trocar de par; “vermelho”, ficar parado e “verde”, voltar a dançar.
14 – VAMOS CANTAR: Cantar pulando “Pula, pula seu sapão...todo mundo mão direita no chão!”. Cantar trocando as parte do corpo: pé esquerdo, bumbum, joelhos, duas mãos etc.
15 – ENCAPAR BAMBOLÊ: dois grupos: o líder (com o bambolê na mão), deverá escolher dois colegas que irão até uma caixa com vária tiras de papel crepon coloridos e pegar somente tiras da cor combinada anteriormente, após pegar todas, voltar e com a ajuda de fita adesiva, encapar o bambolê do seu líder.
16 – MISTURANÇA: tirar os calçados e meias das crianças e misturar. Separar os alunos em três equipes que ficarão em fila. Ao sinal do professor, o primeiro vai correr e calçar as próprias meias e calçados, voltar correndo para a fila para que o próximo possa ir.
17 – MESMA ESPÉCIE: três grupos em fila, pegar com o professor um papel onde está escrito o nome de um animal (para as três filas serão os mesmos animais, mas distribuídos em ordem diferente). Depois que todos estiverem com o seu papel sorteado, imitar com o corpo o animal e sair à procura dos outros dois da mesma espécie e fazer um novo grupo.
18 – BAMBOLÊ: duas filas de crianças e as duas primeiras segurando uma bola na cabeça e à frente duas crianças segurando bambolê rente ao chão. Ao sinal do professor sair andando (correndo, pulando) e passar por dentro do bambolê (bola na cabeça), dar a volta e entregar a bola ao primeiro da fila e ir para o último lugar.
19 – ESTRELÃO: em diagonal, com as três filas saindo de um ponto (círculo) 0nde devem estar três bolas. Os últimos das três filas saem correndo PELA DIREITA, dão toda a volta e, chegando ao local de origem, passarão por baixo das pernas dos colegas; quando chegar ao centro, pegarão uma bola e a levantarão. Depois a FILA ABAIXA bem, os últimos três sairão correndo e quando voltarem irão passar por cima dos colegas, pegar a bola e levantar.
20 – SUFOCO: três filas, bem à frente um bambolê no chão próximo a uma parede. Os primeiros das filas deverão sair andando com uma bola na mão, ao chegar ao bambolê, ficar com os pés dentro e sair andando, tocar a parede com a bola, segurar a bola nas costas e voltar de ré e dar a bola ao próximo da fila que fará a mesma coisa.

domingo, 6 de março de 2011

Atividades pedagógicas 1

Atividades pedagógicas

Alguns momentos de interação e aprendizagem

O que a sociedade espera

Quando uma criança nasce, os pais sonham com um bebê perfeito e bonito. Essas são suas expectativas. Quando isso não acontece, vem a decepção, a culpa, os conflitos. Há muitos casos onde o pai acusa a mãe, dizendo que "deve ter puxado alguém de sua família", a mãe lembra que o pai dele (avô da criança) é um bêbado e por isso a criança nasceu doente; familiares chegam a dizer que a mãe (se for família do marido) cometeu algum pecado grave entre tantas outras aberrações.
Se os pais têm expectativas em relação aos filhos, a sociedade também tem. E a sociedade quer pessoas "normais" para dar menos trabalho...
Antigamente tínhamos a segregação drástica. Matava-se quem não fosse de acordo com a normalidade. A ausência de convivência só trazia mais preconceito e violência. Tivemos também os manicômios, onde a probabilidade de desenvolvimento era quase nula.
Hoje, temos a inclusão escolar.
Sim, temos, e daí?
Temos uma escola inclusa? Escola inclusiva é aquela onde todos aprendem. Ninguém fica de lado. Ninguém é abandonado em um cantinho fazendo bolinha de papel crepon É uma escola com mudanças físicas e com mudanças comportamentais. Onde todos falam a mesma língua, são cidadãos. Onde há boa vontade, adaptação curricular, reflexões, atividades em comum, aceitação.

EScravidões

Sim, temos muitos tipos de escravidão.
Temos aquela escravidão a qual nos submetemos e fazemos tudo igual a todo mundo, nos tornamos uma massa impensante.
Refletindo sobre a escravidão no Brasil, uma mancha muito triste em nossa história, conseguimos entender certos preconceitos. É algo enraizado. Lendo o livro de Laurentino Gomes, 1808, temos uma visão clara daquela realidade, negros fugindo para os morros (futuras favelas), negros fazendo trabalhos doméstico por um prato de comida, escravo tendo escravos (Xica da Silva, por exemplo), a capoeira, a culinária, enfim, nossa identidade cultural dá margem a muitos estudos.
A maneira como os escravos eram trazidos da África, as mortes, o sofrimento são situações que não devem ser esquecidas. Erros que jamais deverão ser cometidos. A estratégia de misturar as comunidades africanas para que não houvesse comunicação quando chegassem aqui, com a finalidade de evitar diálogos, fugas, tudo isso deve ser ensinado, discutido nas escolas.
Infelizmente, este assunto só entra em "discussão" em datas comemorativas: libertação dos escravos e consciência negra. E, falando da minha realidade como professora do ciclo um, vejo a reprodução, antes mimeografada, agora, impressa diretamente da internet de desenhos para pintar. Não se vai ao fundo das origens da discriminação e da marginalização.
Gosto de mostrar cenas antigas e recentes da nossa sociedade, conversar, ouvir, despertar a curiosidade, pesquisar pais, entre tantas outras atividades. Mas nem sempre há tempo, pois temos que cumprir um programa...
O modelo pré estabelecido de beleza que temos não condiz com a maioria da nossa população, isso gera revolta, angústia e atitudes radicais. Temos nas escolas crianças com escova progressiva, processo químico perigoso que alisa os cabelos. Nossas meninas estão deixando de ser crianças para serem modelos. Aquelas que são negras ou tem traços de negros, não se orgulham disso. Nas novelas as negras consideradas bonitas são aquelas com traços de branco.

Sexualidade

Ao ler ou conversar sobre a sexualidade, todos os preconceitos envolvidos, percebo, cada vez mais a importância do professor. Sei que somos despreparados para lidar com este assunto e muitas vezes acabamos transmitindo mais preconceitos.
Estudando, pesquisando me deparo com situações antes não pensadas: até antes de nascer os meninos são mais cercados de pontos positivos. A barriga que acalenta uma menina é larga, manchada, praticamente horrível! Que absurdo! A barriga da mãe de um futuro menino é lisa, bonita, pontuda.
Meninas são levadas a um romantismo exagerado, a uma fragilidade que prejudica, a uma imagem negativa.
Fui dar um curso sobre alfabetização no nordeste e conversando com a população, constatei que eles têm muitos filhos porque senão surgem comentários de que o marido não é homem. Tem-se muitos filhos, não há como alimentá-lo, oferecer estudos, dar uma vida digna.
Em sala de aula encontramos de tudo. Pais que espancam filhos que demonstram trejeitos femininos ou meninas com traços masculinos. Tive um aluno que não foi criado com o pai (figura abominada pela mãe) ,ele foi criado pela mãe, pela avó, pela tia, pela madrinha e teve uma irmã. Ou seja, ele não teve referencial masculino. A culpa é dele? Ele vai querer ser homem? Em sua cabeça homem é sinônimo de falsidade, sofrimento, violência. Mas ele não era homossexual e conforme foi crescendo, entrando na adolescência, surgiram muitos conflitos no campo sexual. Não sou psicóloga e não posso afirmar nada no campo científico, apenas relato o que observei.
Ainda hoje vemos a separação de tarefas. Existem aquelas destinadas tradicionalmente para as mulheres: lavar, passar, cozinhar... E as tarefas destinadas aos homens.
A família contemporânea mudou. Hoje, nas reuniões de pais já encontramos casais homossexuais. São raros, mas encontramos. Ou família onde a mãe é pai e mãe. Ou o pai é mãe e pai (mais raro) ou famílias onde a avó é tudo! A avó que cria, educada, acolhe, trabalha para sustentar, não só a criança como as mães das crianças.
Nossas autoridades deveriam começar um programa que levasse a população a refletir mais e assistir menos BBB 11!

Sustentabilidade e Educação Ambiental

Começarei relembrando a atividade descrita por um grande amigo, professor Izaias. Ele é professor de geografia e ha muito tempo me contou com muita emoção o resultado de um projeto desenvolvido em sua escola. Era um projeto sobre o rio Tietê. Foi uma experiência que mudou posturas diante da vida! As fotos de seus alunos conhecendo a nascente do rio... eram lindas! Ele também desenvolveu Projeto Horta, Projeto Jardim, Mata ciliar, entre outras atividades. Se eu, que só ouvindo suas experiências, aprendi tanto, imagine seus alunos que vivenciaram tudo isso!
Profissionais assim, nos fazem renovar esperança em um mundo melhor.
Tive uma aluna no curso de pedagogia que era professora de Educação Infantil. Depois de algumas aulas onde refletimos sobre a Educação Ambiental, ela desenvolveu um projeto com seus “bebês”. Um dia, ela ficou muito feliz ao ouvir uma das crianças chamando a atenção dos demais para cuidarem melhor das plantinhas novas (mudas) do jardim.
Sim, a educação ambiental deve ser efetuada desde que a criança entre na escola e não só quando ela tiver o professor especialista de ciências, geografia.
E todos os professores devem ter uma formação sólida para poderem ser formadores. Chega de aula de educação ambiental no dia da árvore, da ave, do planeta Terra, do meio ambiente, dos animais... Temos que romper com esta rotina de simplesmente pintar desenhos. Não basta treinar as crianças para jogarem o lixo no lixo, economizarem água etc.
Antes de tudo o professor deve ser crítico, ter uma boa formação teórica em relação à educação ambiental. Ter segurança e acreditar no que ensina. Criar o hábito de refletir, adquirir conhecimentos, preparar atividades dinâmicas, dialogar com os alunos. Conhecer onde os alunos moram, onde a escola está inserida. Deixar de lado os fragmentos de conhecimento. Construir um conhecimento que resulte em mudanças significativas.
Claro que precisa haver uma mudança em toda sociedade.
Como falar de destino do lixo para pessoas que tiram seu sustento do mesmo? Não coletando materiais recicláveis, mas garimpando restos de alimentos? É preciso incluir estas pessoas na sociedade para que elas possam entender toda esta complexidade.
Enquanto os professores tiverem que cumprir projetos que já chegam prontos, não haverá mudança. Se o professor não participa da construção dos projetos, como vai se envolver? Como vai "vestir a camisa" e fazer um bom trabalho?
Maior envolvimento, de todas as partes. Elencar os principais problemas ambientais da comunidade. Eleger o mais urgente e, juntos, empreender ações. Isso faz com que o professor se envolva, os alunos se envolvam, os pais se envolvam, a comunidade escolar se envolva.
Definitivamente, há muito que se aprender!

EJA e classe multisseriada

EJA - Um assunto complexo. Tenho anos de experiência em sala de aula, mas nunca assumi uma sala com esta faixa etária. Li alguns materiais e aprendi muita coisa interessante. A ausência ou a presença da escolaridade na vida de uma pessoa influencia seus relacionamentos sociais, familiares e profissionais. Não ter tido acesso à escolaridade faz com que o indivíduo seja considerado à margem da sociedade, marginalizado. É vítima de preconceitos, de exclusão. Não ser escolarizado leva a uma baixa qualidade de vida. A família, onde os pais frequentaram a escola, são letrados e esclarecidos, tem um nível de vida muito mais saudável, em todos os aspectos, pois educação é sinônimo de cidadania plena. Observo essa realidade com meus alunos, aqueles que os pais possuem certa instrução, valorizam a escola, participam da vida escolar do filho, interagem. Os outros, porém, têm uma representação ruim da escola. Costumam dizer nas reuniões de pais: "Meu filho, sabendo escrever o nome tá bom, eu só sei isso e ninguém morreu de fome!"
Claro que há exceções.
Podem não ter morrido de fome, mas não vivem, não participam da vida política da cidade, do Estado, do país; reproduzem o que seus pais viveram; não possuem voz ativa, são meros instrumentos nas mãos de quem está no poder, são consumidores de músicas descartáveis, programas televisivos que não acrescentam nada. Discutem calorosamente reality show enquanto o salário perde o valor, para conseguirem uma consulta precisam esperar meses, andam horas em pé em conduções cheias, entre outras coisas.
A alfabetização é o alicerce para a Educação Básica. É deprimente observa o imenso número de analfabetos funcionais. Um dia, em uma agência dos Correios, uma ex aluna da faculdade observou um grupo de adolescentes desesperados porque não entendiam como preencher uma simples ficha. Ela me relatou o fato e, juntas, refletimos sobre o porquê da importância do saber ler. Quem não sabe ler, não consegue participar plenamente do mundo. O mundo é letrado.
Alfabetizo crianças, mas já entendi que alfabetizar adultos é outra história. É outro desafio. Devemos, em primeiro lugar, conhecer profundamente quem aprende: desejos, medos, expectativas, sonhos, interesses.
Lembro-me, quando fazia trabalho voluntário para a "Alfabetização Solidária" (capacitava líderes de comunidades indígenas) e, após explicar as leituras que fazemos mesmo sem saber ler (rótulos, placas etc), que devemos valorizar a realidade do aluno, que devemos criar um ambiente alfabetizador escrevendo o nome de tudo que há na sala de aula, uma índia de Santa Isabel do Rio Negro (Amazonas), levantou a mão e disse que tinha uma dúvida. Prontamente pedi a ela que falasse. Fui pega de surpresa com sua pergunta: "Pró, me diga, como vou escrever porta na porta, lousa na lousa, janela na janela, se dou aula embaixo de uma árvore? Lá não tem parede, não..."
Achei aquilo lindo. Que vontade de ajudar o próximo! Que vontade de aprender! Levantei, com ela e os outros índios, palavras comuns do dia a dia, nomes de plantas, animais, árvores... E, ao final, quem aprendeu fui eu.
No último dia da capacitação, o líder me chamou e sua companheira me disse que quando saíram do Amazonas trouxeram um colar feito por eles para darem a alguém especial e um outro "tesouro": uma pasta feita de papel cartão com produções escritas feitas pelos seus alunos. Com a promessa de entregarem este presente a pessoa que mais marcasse este encontro, a pessoa que mais ensinasse como aprender a ler. Sim, eu ganhei este presente de valor incalculável!
A alfabetização de adultos deveria contribuir para a mudança da realidade social, de verdade. Mas, conversando com amigos que trabalham há muito tempo com EJA, percebo que ainda há resistência no desenvolvimento de uma educação onde eles, alunos, são sujeitos do processo educativo. Eles, ainda querem, apenas lição na lousa. Não entendem que quantidade não é qualidade. Algo parecido com o que acontece nas aulas de filosofia. A EJA precisa conscientizar seus alunos sobre a organização do nosso país, do mundo. Esclarecer sobre seus direitos básicos, seu direito de ter dignidade, segurança e felicidade. Desenvolver suas capacidades interpessoais, torná-los mais solidários, leitores fluentes, pessoas que valorizam suas próprias histórias de vida, sua cultura popular, mas ao mesmo tempo com um desejo enorme de aprender.E para que isso aconteça, os professores devem ser capacitados, trocarem experiências, com a finalidade de desenvolverem aulas envolventes, dinâmicas, dando sentido aos conteúdos, promovendo a participação de todos.
Os alunos da EJA, geralmente os mais velhos, sentem-se ainda mais deslocados. Em nossa sociedade consumista e descartável, eles, os idosos, acabam sendo, também, descartados.
Assim que encerrei os escritos acima, assistindo o noticiário, a notícia não poderia ser mais pertinente: Resultado da pesquisa sobre o impacto da leitura sobre o cérebro. O pedreiro entrevistado, que decidiu se alfabetizar e fez parte da pesquisa, disse "se sentir uma criança". A pesquisa comprovou que a área do cérebro ativada na aprendizagem da leitura em uma criança de seis anos é a mesma no adulto. Ou seja, todos podem aprender a ler. Dizer que o aluno mais velho tem mais dificuldade para aprender, cientificamente, não é uma verdade.
Falando de EJA, não sei por quê, mas lembrei-me de uma escola em minha cidade que visitei faz alguns anos. Ficava (ou fica) perto do pedágio e era multisseriada. Acompanhei o trabalho da professora e vi que ela conseguia fazer um bom trabalho. Além da multesseriação, ela tinha alunos bolivianos (em todas as séries), eram irmãos e como não falavam português ficavam sempre juntinhos. Aproximei-me da mais nova, que estava matriculada no ensino infantil, era linda.
No final do período, a mãe das crianças bolivianas, trouxe para a escola uma cobra em um líquido. Como foi difícil entender a mãe querendo dizer qual foi seu objetivo. E para ela explicar que aquele líquido era aguardente. Só entendi quando ela mostrou a boca aberta e disse que a cobra estava imersa no líquido que eles bebem em casa...
Os professores que assumem essas classes devem enfrentar um enorme desafio e devem criar atividades que envolvam toda a classe, formar grupos produtivos, misturar níveis de aprendizagens diferentes, deixar crianças do mesmo nível de conhecimento juntas... Enfim, ser criativo.
Nossa como professor sofre!

Minha escola

Prática pedagógica

Vou falar, digo, escrever, sobre a minha prática docente. Enfim, fazer este BLOG, despertou algo que, infelizmente, estava um pouco adormecido: a necessidade de problematizar minha prática pedagógica.
É muito fácil falar de postura crítica, liberdade de expressão, desenvolvimento integral, diversidade cultural, enfim, tudo que viabiliza a cidadania. É fácil falar, difícil é por em prática. E muitos são os entraves: falta de embasamento teórico, perseguição pessoal ou política, gestores acomodados, método de trabalho imposto, dividir-se entre duas redes de ensino, avaliação tradicional, entre outros.
Atualmente, a escola precisa competir com o mundo lá fora no âmbito da diversidade de assuntos e forma de apreendê-los. O mundo oferece brinquedos eletrônicos, computadores, shopping e, no caso das periferias, pipa, rua, brincadeiras. A escola precisa ser “gostosa”. O conhecimento nasce das relações humanas. Se ficarmos horas sentados, um atrás do outro, sem conversar, sem mostrar o que se sabe, o que se quer, apenas reproduzindo modelos nem sempre atrativos e desvinculados da realidade, seremos meros reprodutores de uma sociedade passiva e desmotivada. Pessoas que não praticam sua cidadania.
Educação não é treinamento, a escola precisa ter um papel importante na vida das pessoas. Observo que aqueles alunos que não produzem em sala de aula, mas em casa, com a família, fazem toda a lição tem uma representação negativa da escola. Já tive aluno que não queria aprender porque o pai, só sabendo escrever o nome, os tinha criado. O diálogo comunidade e escola é fundamental. Os pais devem se sentir parceiros do processo de aprendizagem e não aparecerem na escola só no dia da reunião para, o mais depressa possível, assinarem as papeladas e irem embora. A escola deve resgatar seu papel social, ter como objetivo a formação integral do educando cidadão. O gestor deve incentivar buscando o que há de melhor em cada profissional da educação, criar espaços para o diálogo, oferecer oportunidades para que seus professores tenham uma formação continuada, que as dúvidas, as experiências sejam compartilhadas, incentivar os registros (portfólios, por exemplo), pois só assim o professor poderá acompanhar sua própria evolução pedagógica, observando erros e acertos, refletindo sobre sua prática. Deve, também, organizar o tempo e o espaço, respeitar os diferentes segmentos, descentralizar o poder, manter uma ponte entre a escola e os outros espaços de formação, fazer tudo para que o repertório cultural do aluno seja ampliado. Não é uma tarefa fácil. A democracia é uma atitude que só praticando é que se aprende.
Víamos a escola, principalmente a educação infantil, como um “depósito” de crianças, precisamos lutar para que, cada vez mais, seja desenvolvida uma educação de qualidade, que embase uma nova mentalidade: pessoas que se respeitem, tenham vontade de aprender, participar da vida comunitária, ser solidário, culto, leitor, criativo, ter uma visão abrangente, saber fazer escolhas saudáveis. Ser cidadão.

Dou aula ha muito tempo, mas mesmo assim, cada ano letivo é uma nova aventura, um novo desafio. Os alunos do inicio da minha carreira são diferentes em alguns aspectos dos alunos de hoje, mas ha muita coisa parecida: carência afetiva, nível sócio econômico, família desestruturada... São diferentes principalmente em relação ao acesso às informações. Hoje não há espaço para a escola estática, com aulas cansativas, explicações demoradas, sem nenhum recurso. Nossos alunos são íntimos das novas tecnologias, aproximam-se sem nenhum receio dos computadores. Nós professores temos que acompanhar esta evolução. Aquele professor que diz "que não sabe nem ligar um computador" terá dificuldade em preparar uma aula que vá de encontro ao seu "antenado" aluno. Conheci um professor que montou com seus alunos um vulcão. Até nas fotos dava para sentir o entusiasmo diante da fumaça, diante de toda aquela descoberta, de todo aquele conhecimento apreendido de verdade e não simplesmente decorado para a prova.
Ano passado, na minha escola uma professora do primeiro ano chegou vestida de bruxa. Foi uma movimentação geral na escola. Depois, ela chamou meus alunos para participarem de uma aventura. Fomos. A sala estava decorada com temas fantasmagóricos. Até o esqueleto usado nas aulas de ciências estava lá, de peruca e gravata. Em frente à lousa tinha uma bancada com vária latas envoltas em um tecido preto, com elástico na boca e decoradas com desenhos referentes a festa. Os alunos deveriam, com os olhos vendados, colocar a mão dentro de uma das latas e adivinhar o que havia la dentro.Enquanto isso nós, professores, dizíamos para ter cuidado com a perninha, sugerindo que lá dentro havia um sapo. Na realidade dentro das latas havia areia, gelatina, algodão etc (para desenvolver o tato), depois das latas algumas crianças seguravam os perfumes de caca de rato louco, cecê de morcego etc. As crianças, com cara de nojo, cheiravam e descobriam que eram "cheiro conhecidos". Descobriam assim, a importância do olfato. Antes de dançarem ao som de músicas animadas (audição), passavam por uma garotinha que enxugava suas mãos, outra que dava uma dentadura de vampiro e outra que, com um batom, pintava o "sangue escorrendo". Foi uma aula sobre os sentidos. Mas, também, desenvolveu a solidariedade, a cooperação, a troca, a criatividade, a emoção, a gratidão. Enfim, alicerce para a cidadania.
Como é importante fazer parte de uma comunidade escolar onde seu trabalho é reconhecido e respeitado. Onde a criatividade dos professores voa. E quem ganha com tudo isso são nossos alunos, mesmo!

Inclusão

Relato de uma experiência que vivenciei há alguns anos. Eram crianças entre sete, oito anos. Na sala havia uma criança que todos achavam linda, inteligente, bem vestida, com os melhores materiais (toda classe tem). Um dia, peguei uma caixa linda, bem decorada. Falei à classe que ali dentro tinha a foto da pessoa mais importante do mundo, mais bonita, inteligente, amiga, especial... e que eu chamaria um de cada vez para ver quem era, começou o murmurinho, todos achavam que era a “menininha linda”, a popular da sala. Mas tinha uma condição: tinha que ver e jamais revelar o segredo. Apenas pensar sobre o que viu.
Cada vez que chamava uma criança, abria a caixa e ela via seu reflexo (dentro da caixa havia um espelho)o sorriso abria, o abraço era espontâneo. Algumas crianças choraram porque, depois me explicaram, jamais foram chamadas de lindas e especiais.
Depois desta experiência, muita coisa mudou naquela sala de aula.
Isso é inclusão.
Inclusão, um assunto que muito tenho a aprender. Cada vez que aprendo algo, percebo o quanto sou ignorante no assunto.
Há anos vivo diferentes situações quando me deparo com um (ou mais) aluno portador de deficiências. Situações de: de apoio, de preconceito, de pessoas que querem ajudar, mas não têm respaldo dos órgãos públicos, injustiças, pessoas maravilhosas, profissionais brilhantes, indiferença.
Acredito na inclusão escolar. Sei o quanto ela pode favorecer o desenvolvimento da criança especial, pois é na escola que ela encontrará modelos, parâmetros, se socializará e aprenderá a ser um verdadeiro cidadão. Mas a escola tem que contribuir com esse processo. Sei que é difícil, os professores não têm apoio, esclarecimentos, se querem fazer um bom trabalho, o investimento é por conta própria. As escolas deveriam ser adaptadas, possuir materiais específicos para cada deficiência. A escola, deve trabalhar de forma diferenciada, mas sem excluir a criança, precisa lidar com dinâmicas familiares instáveis. É muita responsabilidade. Todos na escola devem falar a mesma língua, não adianta um grupo fazer um trabalho consciente com a criança e chegar alguém da comunidade escolar e se referir a criança como “coitadinho”, como “o diferente”.
A equipe gestora (diretor, vice e coordenadores), assim como todos os funcionários da escola (porteiro, segurança, merendeira, faxineira etc) deveriam participar de palestras com profissionais específicos, pessoas que vivenciam a inclusão na família, advogados (para conhecer seus direitos), ter cursos.
Crianças com déficit de aprendizagem deveriam participar de aulas diferenciadas, onde suas habilidades fossem desenvolvidas. Aquelas com comprometimentos cognitivos severos deveriam ser direcionadas para o esporte (desenvolver coordenação, assimilar regras etc), cursos profissionalizantes. Mas tudo isso deve começar em uma classe comum.
A criança especial deve ser encarada pela comunidade escolar e pelos órgãos públicos como um desafio positivo e não como um depósito de queixas (da família, da escola). As escolas deveriam ser adaptadas e, quando o professor tivesse uma ou mais inclusões, seu número de alunos deveria ser reduzido. Há casos de professores que têm 40 ou 42 alunos e inclusões. Não há como desenvolver um trabalho eficaz.
Pediatras, dentistas, assim como todo profissional que se relacionará com a criança especial deve ser capacitado.
Ano passado conheci uma verdadeira educadora (ainda bem que elas/eles sempre aparecem em meu caminho para dar uma injeção de ânimo), PEB I, como eu com uma classe de primeiro ano, crianças de cinco anos. E, no meio de tantos, ele: um deficiente visual! O que a professora fez? Enlouqueceu de desespero por, aproximadamente, cinco, seis minutos! E depois pesquisou, estudou, pediu ajuda, socializou sua situação, mandou email para órgão público, recebeu uma máquina de escrever em braile, ensinou os demais professores da escola a escrever os próprios nomes em braile, levou esta criança ao zoológico e, se eu viver duzentos anos, não me esquecerei seu sorriso quando, puxando uma fila de crianças encontrou comigo, também, puxando uma fila de crianças e gritou: Aqui tem um espaço específico para cegos e ele amou! Todo mundo amou.
O incluso não pede piedade. Quer respeito e oportunidade de viver de forma digna, ser um cidadão verdadeiro.


Sempre procurei fazer o melhor, mas também reconheço que às me rendo ao sistema, começo reclamar, não enxero dias melhores. São nesses momentos que “acontecem” situações como a descrita acima e muda tudo. Que bom!
Após reflexões, percebi que fiz/faço muitas atividades que levam meus alunos a vivenciarem experiências à respeito das diferenças individuais. Acredito, que tendo meus valores claros, acabo revelando isso em minhas ações, diálogos, colocações, no meu modo de pensar/viver. Pois, também, sou fruto de grande personalidades que passaram/ou estão passando pelo meu caminho. E, em algum momento, acabo introjetando, em quem convive comigo, estes valores. A padronização comportamental me incomoda. Como fico feliz ao perceber alunos que conhecem nossos grandes nomes da MPB em detrimento às música vazias de consumo. Há três, quatro anos, durante uma brincadeira da cadeira na festa das crianças, quando uma professora colocou uma daquelas músicas desagradáveis, um aluno meu perguntou: Por que você não coloca A Banda, do Chico Buarque, a gente sabe cantar.
No Estado de São Paulo, o material que os professores dos 3o. anos recebem para desenvolver faz um bom trabalho com Chico, Caetano, Cartola, Pixinguinha, Vinicius, Gilberto Gil; mas eu sempre trabalhei com este material, mesmo antes do Estado sugerir. Também já ouvir alguns professores dizerem que não gostam de trabalhar com essas músicas de "gente que já morreu", ou então que nunca haviam ouvido determinadas músicas (Ciranda da Bailarina, por exemplo), que não são músicas infantis etc. Temos músicas infantis de ótima qualidade, também.
Procuro mostrar aos alunos a importância dos clássicos. O porquê deles se perpetuarem. Leio muito para eles. No início meus autores preferidos (Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, Erico Veríssimo...), depois eles adquirem uma autonomia literária que chega a emocionar.
Coisas engraçadas acontecem: Quando falei do Ziraldo, a surpresa foi: Ele não morreu? É um escritor vivo? Outra vez, uma aluninha, que hoje é adulta, chegou numa segunda-feira muito brava, triste e decepcionada: O Caetano Veloso não é criança, ele é velho e você nunca me falou isso, professora Janete! Bom, eu nunca imaginei que isso fizesse alguma diferença. Ao ser questionada ela esclareceu que O leãozinho "é coisa de criança".
Preocupo-me vendo estas pessoas que saem às ruas, vestidos de branco pedindo paz. Muito louvável, só que uma boa parte dessas pessoas, na primeira fechada no trânsito, soltam palavrões impublicáveis, ameaças e, muitas vezes, até brigam fisicamente. Que tipo de educação esta criatura teve, quais professores passaram pela sua vida? O que ficou? Ficou alguma coisa?
E aqueles que defendem a Amazônia com "unhas e dentes", mas jogam lixo no chão, compram alimentos a mais do que consumirão, compram coisas que nem sabem para que serve, lava o carro por horas, tomam banho relaxante de duas horas, jogam o cigarro aceso à beira das estradas, sentem aversão por moradores de rua, chutam cachorros, afogam filhotes de gata...
Muitas vezes sou contaminada pelo pessimismo, mas, sempre, graças a Deus, algo digno de registro acontece. Há umas três semanas, a bibliotecária da escola (Yoshico) me chamou e, com um sorrisão no rosto, me contou uma coisa que encheu meu pedagógico coração de esperança: meus alunos, à caminho da biblioteca, pararam para ver uma solitária e linda rosa que havia desabrochado no jardim da escola.
Acho que estou no caminho certo...
E a rosa em questão está lá no alto, digo, aqui embaixo...

Tudo pronto, não preciso mais pensar!

Começarei minhas reflexões com a contundente frase de Sócrates: "Sem reflexão a vida não merece ser vivida."
Hoje, temos tudo pronto. Basta apertar, girar, digitar, programar. Nossas crianças ficam paradinhas, estáticas em frente ao televisor. Os adultos, também, assistindo novelas, realit show. Vamos fazer compras e tudo está organizado, nem precisamos pensar para procurar o que queremos. Vamos dar aula e já encontramos o material, nosso e dos alunos, pronto. Tudo é, de certa forma, previsível. Então, para que pensar, "perder tempo". Onde perdemos nossa visão emancipadora e abrangente, nossas ações criativas, a capacidade de potencializar os espaços educativos, a avaliação que me oferece pistas de como ressignificar minha prática pedagógica, capacidade de organizar tempo e espaço, vontade de ampliar o meu repertório cultural e do meu aluno? Minha verdade de que democracia e cidadania se aprende praticando?
A educação deve preparar para a vida, ainda mais com a globalização, o número enorme de informações, a convivência na diversidade. Mas muitos ainda educam com o único objetivo de passar em exames.
Há sistemas de avaliação, adotados em alguns estados. Avalia-se o desempenho do aluno, o trabalho do professor, mas quem avalia as políticas educacionais? Será preciso? Ou basta olhar o lugar que o Brasil ocupa no ranking de alfabetização na América do Sul, penúltimo!
Como avaliar se a criança/adolescente introjetou atitudes, valores, comportamentos desenvolvidos e vivenciados na escola? Com certeza não é através de provas.
O que você pensa sobre isso tudo?

Filme Madagascar 2

Vamos refletir sobre escola e cidadania? Creio que uma não acontece sem a outra.
Cabe à escola criar condições do aluno vivenciar o sentido pleno de cidadania. O aluno deve ser curioso, ter vontade de aprender, construir o sentido de sua vida e, não como vemos muitas vezes, por exemplo, os adolescentes todos "iguais" (vestimentas, hábitos) e as meninas com a resposta pronta para a pergunta em relação ao futuro: "Quero ser modelo, manequim e atriz". Nada contra, temos atores que são ícones em nossa sociedade, com cultura, identidade, seriedade, princípios bem definidos. Mas existe vida além do mundo fashion!
Deve haver um investimento nas relações humanas, pois elas educam! E o diálogo é uma condição para o conhecimento. Nossos alunos precisam ter referenciais. O professor deve testemunhar, viver o discurso que profere. Deve ter bem claro (eu sei que é difícil) que educação não é treinamento, disciplina não é sinônimo de doutrina.
A educação não é neutra, ela tem uma intencionalidade, cabe ao professor saber identificá-la, manter aceso seu exercício crítico de cidadania, para poder, formar cidadãos de verdade. O caminho seria uma oposição à pedagogia neoliberal? Até onde a iniciativa particular pode mudar a vida de uma pessoa?
É um assunto muito complexo, envolve, além de muitos fatores, a violência pessoal e a social. Desemprego, educação e saúde de baixa qualidade, falta de moradia, enfim, pobreza é uma forma de violência. Refletindo, lembro-me do romance "Teresa Batista, cansada de guerra", de Jorge Amado, onde, em um trecho, conversando com o leitor ele fala sobre as doenças que assolam o sertão: "Se não fossem a bexiga, o tifo, a malária, o analfabetismo, a lepra, a doença de Chagas, a xistossomose, outras tantas meritórias pragas soltas no campo, como manter e ampliar os limites de fazendas do tamanho de países, como cultivar o medo, impor o respeito e explorar o povo devidamente? Sem a disenteria, o crupe, o tétano, a fome propriamente dita, já se imaginou o mundo de crianças a crescer, a virar adultos, alugados, trabalhadores, meeiros, imensos batalhões de cangaceiros - não esses ralos bandos de jagunços se acabando nas estradas ao som das buzinas dos caminhões - a tomar as terras e dividi-las? Pestes necessárias e beneméritas, sem elas seria impossível manter a sociedade constituída e conter o povo, de todas as pragas a pior? Imagine, meu velho, essa gente com saúde e sabendo ler, que perigo medonho!" (páginas 188 e 189).
O ser humano tem uma capacidade incomensurável de progredir, crescer. Reconheço que é difícil enfrentar a realidade, mas quando queremos ser melhores do que somos, conseguimos. Meus pais são semi-analfabetos, nossa casa, muito humilde. Quando meu pai comprou nosso aparelho de televisão, eu estava começando a andar, ele o fez em suaves prestações e assim que os vizinhos souberam, correram em casa. Minha mãe conta que era uma festa. Meu pai pegava todos os dias o primeiro trem (quatro horas da manhã) e só voltava à noite. Quando recebia, ou seja, uma vez ao mês, trazia um chocolate e um gibi, primeiro do Walt Disney, depois, do Maurício de Sousa. Ele nos contava história depois do jantar. Ele despertou minha imaginação. Aprendi a ler e quis ser mais do que eles no aspecto educação formal, porque no aspecto ser humano iluminado, tenho um longo caminho a trilhar para ser como eles.
Hoje, o que vemos (claro, não é uma regra geral), pessoas que reclamam do emprego, do salário, da vida! Mas o que fazem para mudar? Uma das minhas alunas me relatou um fato extremamente desagradável: na fila do banco uma falsa loira, com uns dois dedos de cabelo escuro na raiz, reclamava da "merreca" que iria receber de uma dessas ajudas aos menos favorecidos, mas que pelo menos dava para a tintura do cabelo...
Vemos nas escolas livro de qualidade sendo ignorados pelos alunos, material escolar doado sendo rasgado. Há a mentalidade de levar vantagem e ganhar sempre. Mas ao que vem obtido sem trabalho, esforço, não se dá valor. E aqueles alunos que querem aproveitar o conteúdo das aulas, os ensinamentos dos professores, as trocas, muitas vezes são repelidos pelos demais de diferentes maneiras, seja física ou verbal (bulling).
E voltamos à base de todo esse processo de formação de cidadão: o professor!
E por falar em professor, penso logo em sala de aula e, então, descreverei uma experiência sugerida no curso da UNESP: assistir com os alunos o filme Madagascar 2.
Desenvolvi a atividade desta forma: perguntei à classe quem já havia assistido ao filme. Para minha surpresa, apenas uma criança não havia assistido. Pedi a eles que me falassem do filme. Relataram a velhinha furiosa, as zebras e o cuspe (a zebra fica triste porque não é única que não sabe cuspir), o avião sendo reconstruído, o leãozinho dançarino, a declaração de amor da girafa para a hipopótamo, a boneca havaiana. Depois que eles me relatam estas cenas, começo uma conversa questionando a respeito do significado da palavra "reflexão".
Meus ex alunos (esta atividade foi desenvolvida ano passado) têm entre 7 e 8 anos, estavam em um 3o. ano, antiga 2a. série.
As respostas são interessantes. E continuo falando da importância do pensar nos acontecimentos, na vida, nos sonhos, nos problemas, nas alegrias e ... nos filmes.Pergunto qual foi o acontecimento mais estranho do filme. Eles dizem que foi o casamento de uma girafa com “uma hipopótamo”. A partir dai a conversa "pegou fogo". Saiu desde justificativas românticas (o amor aceita tudo), como frases mais reflexivas (as diferenças pessoais não atrapalham, as pessoas são diferentes e se casam). Falamos sobre "espécies" e a dificuldade de animais criados em zoológico se adaptarem ao ambiente de seus ancestrais. Animais da mesma espécie habituados à vida urbana reencontram aqueles que vivem em estado de selvageria. Fizemos uma lista das dificuldades encontradas. Comentamos. Eles também levantaram outras observações: a dificuldade do pai em aceitar o filho como ele é (dançarino) e não uma cópia sua (o que ele achava certo: feroz, machão, briguento), a falta de inteligência do namorado da hipopótamo antes da girafa, que tinha um "corpão mas era burrinho" (sic alunos), os pais sempre esperam pelos filhos, a mãe tem mais sensibilidade para entender os filhos, o leãozinho venceu na vida sendo ele, fazendo o que ele gostava, a vaidade exagerada e a inveja do leão que queria ser o Rei (Alfa) e fez tudo para conseguir mas perdeu porque foi desonesto. Encerrada as participações, falei sobre "Convivência na diversidade" de uma forma adaptada à faixa etária. Eles participaram, questionaram, deram exemplos. Não há como descrever na íntegra o sucesso desta atividade, mas o mais importante é que foi plantada, naquele momento, a semente da tolerância.

Biblioteca da escola

A alma da escola é a biblioteca. Lá os alunos trocam informações, fazem comentários, despertam o gosto pela leitura, conhecem os diferentes portadores de texto, se familiarizam com os diferentes autores, enfim, se divertem e, claro, aprendem. Infelizmente, há muitas escolas "desalmadas"...

Professores

Senti vontade de escrever sobre ser professor, pois todo dia é dia de índio, digo, dia do professor!
A responsabilidade é imensa. O professor deve ter cultura, senso crítico, ser leitor assíduo, ter flexibilidade, criatividade, sensibilidade, disciplina, seriedade, compromisso. É muito? Não sei, só sei que não para por ai.
É triste ver professores desinformados, que não sabem se expor oralmente e nem por escrito. Sim, temos nossas limitações, mas devemos combatê-las. Discutindo ferozmente quem deve ou não ser eliminado de um programa de realit show, ler fofocas de novela, se recusar a investir na profissão, não ser assíduo, não preparar suas aulas, entre tantas outras coisas não faz um professor que marca, que faz diferença.
Quando fazia magistério (antigo curso que formava PEB I), vi um dos meus professores passando do outro lado da rua e ouvi de outra adolescente: "Olha o professor ........, ele é um barato, não ensina nada, só conta piada na classe".
Aquele dia tomei uma decisão: jamais quero que se refiram a mim assim.
Uma professora que tive na faculdade, dizia o seguinte: "Se um médico erra, sem querer 'fura' o pulmão de um paciente, ele mata um! Mas, se um professor erra, tem uma postura incorreta, mata, no mínimo, quarenta!" é um exemplo drástico, mas que nos faz pensar.
Transformar a sala de aula em espaço cultural de aprendizagem permanente e espontânea, ter atitudes intencionalmente educadoras, enfim, criar uma escola que ofereça condições que viabilizem a cidadania, onde a socialização de informações, da prática do diálogo, a transparência seja constante. Tudo isso deve englobar toda a comunidade escolar, não somente o professor. Deve haver uma real democratização da equipe gestora, planejamento participativo, respeito às diferenças, à diversidade cultural, étnica, sexual (diferentes opções sexuais), social. Desta forma, teremos no futuro, mudanças radicais no atual modelo econômico e político.
Mas, correndo de uma escola para outra, cumprindo tantas exigências, entre tantos outros problemas, fica difícil, mas não impossível.

Coisas da vida...

Tive uma filha de coração e faz três anos que ela faleceu...
Ela era especial, em todos os sentidos! Jamais pensei que o preconeito "existisse de verdade", então, eu o senti na pele. Na pele da nenê, pois ela tinha PC leve, não andava, usava uma gastro (sonda no estômago).
Sim, passei por situações de preconceito, mas talvez não marcou porque foi comigo, não com meu pedacinho de coração que batia fora do meu peito. Muitas vezes, ao passear com a Nathália eu ouvia: Nossa, essa criança só veio para atrapalhar! Você só descansará quando essa criança morrer! Ela é retardada? Não gosto nem de olhar...
Mas por outro lado, convivi com o sorriso mais lindo do mundo por quase quatro anos, conheci profissionais da saúde que merecem ser aplaudidos por coros de anjos, os amigos foram selecionados e só ficaram aqueles que são defensores da inclusão até a alma. Ela me ensinou muito. Conheci outras mães em diferentes situações, crianças abandonadas. Vivenciei a dificuldade de acesso à consultas, exames, óculos, alimentação. Aprendi a fazer com uma calça jeans um apoio para o bebê especial participar da dinâmica da família, aprendi que um simples papel de embrulho de ovo de páscoa faz uma criança sorrir e, ao mesmo tempo, exercitar suas mãos. O importante é sempre estar aberto para aprender, seja qual for a situação.
Quanto a mim, uma vez enviei meu currículo para uma instituição de ensino. Ele foi selecionado. Era uma vaga muito disputada. Fui para a entrevista. As perguntas vinham de encontro a minha experiência profissional e base teórica.
Anos depois, durante uma reunião dos profissionais da área, minha supervisora que na época me entrevistou relatou o seguinte: fiquei observando os candidatos, percebi que uma usava uns óculos muito fortes e já a descartei, pois não conseguiria enxergar os alunos no fundo da classe e perderia o controle, depois de todas as atividades de seleção, esqueci o nome daquela dos óculos (mesmo terminando primeiro todas as atividades), o jeito foi esquecer e entrar em contato com o melhor currículo (já que nas atividades os desempenhos foram parecidos).
Sua surpresa foi, no primeiro dia de trabalho, minha presença. Sem saber, me selecionou e, segundo ela, foi uma das melhores escolhas que já fez, chamava-me de "mestra" e olha que era ela a doutra e a mestra em educação.
Aquele dia sai atrasada e não deu tempo de por as lentes de contato...
Tudo isso me vem à memória sempre, sempre que presencio ou tomo conhecimento de alguma situação de intolerância.
"O preconceito expressa-se em juízo de valor que considera o outro como inferior a nós em algum aspecto: físico, moral. social ou intelectual" (trecho retirado do material do curso a distância da UNESP).
Desde a antiguidade os seres humanos eram considerados desiguais, seja pela tradIção religiosa, seja pelos filósofos. Hoje, temos uma consciência mais clara das desigualdades, mas ainda há um longo caminho a seguir.
A escola é um instrumento estratégico nesta caminhada. Os professores devem sempre manter-se informados, fazer uso da autorreflexão diariamente e estar aberto a aprender, ser tolerante de verdade, criar situações onde o aluno possa refletir sobre as situações, não apenas transmitir discursos de caráter corretivo, sermões dogmáticos.

Vamos dialogar?

Estudar é uma opção de vida muito saudável, no mínimo!
Estudando, lendo, conversando com os amigos, cheguei a algumas reflexões em relação ao tema deste blog:
- o que foge da "normalidade" é considerado mau (e o que define um "normal?");
- a importância do acesso à internet (a desigualdade social entra em nossos lares sem pedir licença, assim como a diversidade cultural);
- a educação, centrada na identidade já não surte efeito, pois meu próximo não é igual a mim;
- importância fundamental do diálogo;
- a necessidade de se trabalhar desde a Educação Infantil valores como: tolerância, intolerância, preconceito, diversidade, identidade, desigualdade, liberdade, igualdade, inclusão, exclusão, cidadania e paz;
- as posições ideológicas, como elas podem manipular a situação, a realidade;
- "optar" pela não utilização da educação tradicional vai muito mais além de apenas mudar o método de trabalho, é necessário interpretar o mundo;
- ser tolerante, muitas vezes esconde uma postura pernóstica: eu te tolero porque sou superior, fugindo da essência da palavra tolerância;
- o quanto ainda temos intrínseco o ideal de humanidade imposto pelo padrão europeu;
- tenho que ser tolerante com tudo? Posso me ferir emocionalmente sendo tolerante com uma situação da qual não sou defensor?
- será que, fazendo comemorações típicas, exposições, feiras temáticas com meus alunos, não estou difundindo a tolerância, mas muito pelo contrário estou reforçando os estereótipos que não levam a uma educação na diversidade?;
- será que, podemos plantar, mesmo inconscientemente, a semente do preconceito social?;
- a importância da quebra dos modelos absolutos de condutas;
- o porquê de se preparar o indivíduo para trabalhar coletivamente, solidariamente;
- o resgate do significado da cidadania ativa deve ser feito de forma eficiente, mostrando sempre a necessidade de se trabalhar pensando, decidindo, escolhendo, mas sempre em uma visão coletiva;
- tipos de violência: desemprego, subemprego, difícil acesso à saúde e educação, falta de moradia, fome e, acrescento analfabetismo (leiam Tereza Batista cansada de guerra, de Jorge Amado);
É claro que, em algum momento, seja em sala de aula como professora, no dia a dia, lendo um jornal, assistindo à TV, acessando a internet, conversando, penso nesses assuntos. Mas, onde deixar as idéias mais claras, construir um conhecimento? Seria discutindo tudo isso neste blog? Quem sabe...