domingo, 6 de março de 2011

Coisas da vida...

Tive uma filha de coração e faz três anos que ela faleceu...
Ela era especial, em todos os sentidos! Jamais pensei que o preconeito "existisse de verdade", então, eu o senti na pele. Na pele da nenê, pois ela tinha PC leve, não andava, usava uma gastro (sonda no estômago).
Sim, passei por situações de preconceito, mas talvez não marcou porque foi comigo, não com meu pedacinho de coração que batia fora do meu peito. Muitas vezes, ao passear com a Nathália eu ouvia: Nossa, essa criança só veio para atrapalhar! Você só descansará quando essa criança morrer! Ela é retardada? Não gosto nem de olhar...
Mas por outro lado, convivi com o sorriso mais lindo do mundo por quase quatro anos, conheci profissionais da saúde que merecem ser aplaudidos por coros de anjos, os amigos foram selecionados e só ficaram aqueles que são defensores da inclusão até a alma. Ela me ensinou muito. Conheci outras mães em diferentes situações, crianças abandonadas. Vivenciei a dificuldade de acesso à consultas, exames, óculos, alimentação. Aprendi a fazer com uma calça jeans um apoio para o bebê especial participar da dinâmica da família, aprendi que um simples papel de embrulho de ovo de páscoa faz uma criança sorrir e, ao mesmo tempo, exercitar suas mãos. O importante é sempre estar aberto para aprender, seja qual for a situação.
Quanto a mim, uma vez enviei meu currículo para uma instituição de ensino. Ele foi selecionado. Era uma vaga muito disputada. Fui para a entrevista. As perguntas vinham de encontro a minha experiência profissional e base teórica.
Anos depois, durante uma reunião dos profissionais da área, minha supervisora que na época me entrevistou relatou o seguinte: fiquei observando os candidatos, percebi que uma usava uns óculos muito fortes e já a descartei, pois não conseguiria enxergar os alunos no fundo da classe e perderia o controle, depois de todas as atividades de seleção, esqueci o nome daquela dos óculos (mesmo terminando primeiro todas as atividades), o jeito foi esquecer e entrar em contato com o melhor currículo (já que nas atividades os desempenhos foram parecidos).
Sua surpresa foi, no primeiro dia de trabalho, minha presença. Sem saber, me selecionou e, segundo ela, foi uma das melhores escolhas que já fez, chamava-me de "mestra" e olha que era ela a doutra e a mestra em educação.
Aquele dia sai atrasada e não deu tempo de por as lentes de contato...
Tudo isso me vem à memória sempre, sempre que presencio ou tomo conhecimento de alguma situação de intolerância.
"O preconceito expressa-se em juízo de valor que considera o outro como inferior a nós em algum aspecto: físico, moral. social ou intelectual" (trecho retirado do material do curso a distância da UNESP).
Desde a antiguidade os seres humanos eram considerados desiguais, seja pela tradIção religiosa, seja pelos filósofos. Hoje, temos uma consciência mais clara das desigualdades, mas ainda há um longo caminho a seguir.
A escola é um instrumento estratégico nesta caminhada. Os professores devem sempre manter-se informados, fazer uso da autorreflexão diariamente e estar aberto a aprender, ser tolerante de verdade, criar situações onde o aluno possa refletir sobre as situações, não apenas transmitir discursos de caráter corretivo, sermões dogmáticos.

Um comentário:

  1. Por isso que descartei Monteiro Lobato para sempre... Suas cartas com conceitos de eugenia defendendo que uns poucos privilegiados tinham o direito de se desenvolver enquanto que os outros "inferiores" não deveriam ter o direito de se perpetuar me enojam. Monteiro Nunca mais.

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